segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Como é viver como voluntário em Itália - em 5 pontos

Voluntários europeus em visita a Ferrara, cidade património mundial da Humanidade.

Já vos falei do que tenho feito como voluntário no Centro educativo onde trabalho. Já vos mostrei muitas fotos dos sítios que visitei, mas faltava-me contar-vos como é realmente viver como integrante de um projecto de voluntariado europeu aqui em Itália.

1 - Primeiro que tudo, é diferente. A vida que eu tinha em Portugal, ficou lá. Com todos os detalhes. Imaginem por exemplo que teriam que ficar 10 meses sem conduzir o vosso carro. Sim, sou eu. 10 meses em que só ando de bicicleta, ou a pé, ou de comboio. Parecendo que não, isso é algo que muda e muito a tua forma de viver. Torna-a até mais saudável. Ontem dizia - e bem - que desde que cheguei a Itália já andei mais a pé do que na minha vida toda. :D

Na feira de comics em Forlí, com os meus dois super-heróis favoritos. :D



2 - Ser voluntário num país que te é estranho é aproveitar para o conhecer ao máximo. Ou pelo menos, devia ser. E no meu caso é. E de que maneira. Tenho aproveitado para frequentar diversos acontecimentos culturais e alguns que não são exclusivos de Itália, mas que posso conhecer com outra perspectiva. Já fui ao Teatro (ver uma verdadeira Ópera italiana), fui a museus, exposições de arte (gratuitas, eheh!!), fui a um festival de cinema, tenho comprados livros de origem italiana e até fui a uma feira de jogos e comics aqui em Forlì, onde encontrei vários livros da Marvel a 1€!! Resumindo: cultura, cultura, cultura... 

Numa aula de italiano, rodeado de voluntários de vários países.

3 - Viver como voluntário é viver com todo o mundo. Ou pelo menos com toda a Europa. Já cruzei caminho com voluntários da Roménia, Espanha, França, Polónia, Rússia, Turquia, Alemanha e não só. De cada um recebi sempre novas perspectivas, novos ensinamentos. E por vezes não é fácil lidar com tanta diversidade. Tens que te habituar e até ceder a novos hábitos, de forma a viveres num ambiente propício a todos. O melhor? Todos demos uns aos outros novas formas de resolvermos e encararmos os problemas que nos aparecem ou não diariamente. 


Em frente à Catedral em Orvieto. Ser voluntário também é viajar. Muito.

4- Economizar é uma palavra que ganhou um significado tremendo. Nós recebemos dinheiro para a comida e outro dinheiro extra (depende dos projectos), mas quando vamos às compras estamos constantemente a procurar os preços mais baixos. Nós não temos um salário. Para todo os efeitos, não temos. Agora pensem o que é viver sem isso. É muito positivo. Estranho? Acreditem que é. Quando vou a um museu ou teatro estou sempre à procura de descontos (para estudantes, voluntários, por exemplo). E acreditem, nós passamos a dar muito mais valor ao dinheiro. Isso é extremamente... enriquecedor.

Subi ao topo da Catedral (Duomo) em Firenze e tirei esta foto. Que vista!!



5 - Como último ponto. Viver aqui, nesta bolha, neste contexto à parte de tudo, pode parecer muito bonito e encantador. E é. A verdade é que o é. E estaria a mentir se vos dissesse o contrário. Claro que as saudades custam e não é pouco. Mas a grande sombra que paira sobre nós é que sabemos que os nossos projectos têm um fim marcado e que, mais cedo ou mais tarde, teremos que voltar à realidade. Depois há outro peso. Falei com muitos voluntários e até com uma amiga que está também num projecto do SVE (em Espanha) e há algo que em menos de 4 meses já se torna evidente e assustador. Nós já não nos revemos na realidade que deixámos para trás. Os nossos amigos e a nossa família serão sempre isso, mas é impossível dizer que ainda nos revemos em todas as conversas. Não é fácil escrever uma coisa destas. Mas alguém tinha que o dizer. A única diferença é que nós aqui começamos a dar mais importância a outras coisas e que por muito que falemos nunca conseguiremos transmitir, nem por palavras, nem por imagens, nem por vídeos, aquilo que cresce e muda dentro de nós todos os dias. Mas a culpa não é deles. É nossa, pois fomos nós quem decidiu cometer esta saudável loucura. 

O meu desejo é conseguir recuperar isso tudo quando um dia voltar. E claro, levar-vos a todos um bocadinho do que estou a APRENDER. :)
Ravenna. Uma cidade absolutamente linda. Um daqueles casos que não vem nos guias turísticos mais populares, sem que se entenda porquê.

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